quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Informe MS



 

Médico de Família e Comunidade: a importância do cuidado integral e eficiente

Data de publicação: 05/12/2020


Profissional especialista em pessoas está apto para resolver grande parte das queixas de pacientes que chegam na Atenção Primária. Saiba quais são os diferenciais


Neste sábado (5/12) é comemorado o Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, um profissional extremamente importante para a Atenção Primária à Saúde (APS). O motivo é que aproximadamente 85% das queixas dos pacientes podem ser resolvidas pelo médico de família - os demais são encaminhados para outras especialidades.

Mas, qual é, exatamente, o diferencial desses profissionais? No Brasil, é comum haver uma confusão entre médico de família e clínico geral, mas tratam-se de funções diferentes, embora complementares. Enquanto o segundo trata especificamente da doença, o primeiro tem o foco na pessoa. Ou, como define a médica de família do SUS em Florianópolis (SC) Fernanda Melchior, “a clínica geral é pontual, e a medicina da família é longitudinal”. Isso significa que o paciente é acompanhado durante todas as fases da vida, “do nascer ao morrer”. Também é preciso lembrar que o médico de família tem uma formação específica: a residência em medicina da família.

Além dos sintomas, o estilo de vida, os hábitos, as emoções, as condições de trabalho e a moradia são levados em conta para que o médico de família aponte um diagnóstico. Ou seja, o indivíduo é analisado de forma integral, em uma abordagem biopsicossocial, justamente porque todos esses fatores podem estar relacionados à saúde - e nem sempre as pessoas estão conscientes disso. “Como costumam dizer: quando a boca cala, o corpo fala, e é nisso que nós prestamos atenção”, observa Fernanda.

Um caso que ilustra bem a importância do médico de família é o do paciente que chegou ao consultório de Fernanda com falta de ar e dificuldade para dormir e para engolir. Ele já havia se consultado com médicos de outras especialidades, que prescreveram exames gastrointestinais e pneumatológicos, mas ambos estavam dentro da normalidade. Então, ela procurou entender o contexto do homem para encontrar a razão dos sintomas, e descobriu que ele estava passando por uma separação, sentia muita saudade dos filhos, pois havia deixado de morar com eles, e ainda apresentava baixo rendimento no trabalho. O paciente sofria de ansiedade. “Chamamos esse tipo de situação de rompimento de ciclo de vida, e trabalhamos em algumas frentes. Ele foi medicado, recebeu um atestado para se ausentar do trabalho durante o período de adaptação ao remédio e, além disso, chamamos a esposa para conversar e buscar uma possibilidade de ele ver os filhos com mais frequência”, conta.

Outra circunstância muito frequente é pacientes chegarem com sintomas adversos decorrentes da combinação de medicamentos receitados por médicos de especialidades diferentes, que não sabem todo o histórico do paciente e, muitas vezes, também não têm conhecimento de quais remédios a pessoa já toma. “Também procuramos evitar intervenções desnecessárias. Às vezes o cardiologista pede um exame que o geriatra já pediu e o paciente já fez. Aqui, o objetivo é fazer a coordenação de cuidado para unificar o atendimento”, diz.

Comunidade
Além do âmbito individual, há a dimensão coletiva da medicina da família. Cada equipe cuida de uma região delimitada geograficamente - no caso da unidade onde Fernanda trabalha, todos os pacientes são residentes do mesmo bairro. E algumas situações que podem causar adoecimento acabam sendo comuns ou recorrentes entre diversos moradores.

Um exemplo disso foi o episódio em que várias pessoas chegaram ao consultório, em datas próximas, com queixas de dores no ombro, e todas elas trabalhavam como caixas de um mesmo supermercado - o que dificilmente seria uma coincidência. A equipe desconfiou que faltasse ergonomia na estrutura que os funcionários ocupavam e, a partir disso, pôde fazer uma intervenção. Outro exemplo é quando muitas crianças da mesma escola chegam com piolho à UBS. “Nesse caso, é necessário acionar a escola para uma ação coletiva”, opina.

Fernanda ressalta que a saúde da família não é construída apenas pelo médico ou médica e que a equipe faz toda a diferença. “Eu não faço nada sozinha. A enfermeira faz a prescrição de cuidado com os pacientes em acompanhamento. Os agentes comunitários são os principais responsáveis por criar o vínculo com a comunidade, pois verificam problemas e trazem as demandas para cá”, explica. Técnicos de enfermagem também fazem parte das equipes - e algumas delas ainda contam com dentistas.

Segundo a médica, cada equipe de saúde da família costuma atender entre 2.400 e 4.000 pessoas. A variação depende do perfil dos moradores do local. “Um bairro com muitos jovens sem doenças crônicas, por exemplo, permite que a equipe atenda mais gente, pois é menos demandada. Já um local onde vivem muitos idosos, que frequentam mais os serviços de saúde, exige que a equipe não expanda os serviços para tanta gente.”

Atualmente, o SUS conta com cerca de seis mil médicos de família, número que Fernanda ainda considera baixo, levando em conta a densidade populacional do Brasil. “Justamente por isso, é necessário que a população conheça nosso trabalho e ela mesma demande a presença de médicos de família onde ainda não tem”, opina. Pensando nisso, o Ministério da Saúde investe na formação desses profissionais, por meio do Pró-Residência para APS, e os municípios também podem receber incentivos do governo federal por cada integrante da equipe de saúde da família em Medicina de Família e Comunidade e nas modalidades uniprofissional ou multiprofissional em Enfermagem de Família e Comunidade e Odontologia. Saiba mais aqui.